quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Decisão

 
As pessoas que estão sozinhas nem sempre têm pleno conhecimento de sua solidão. Eu enquanto solitária nem imaginava a profundidade a que estou submergida. Eis que ontem eu estava distraída enredada em pensamentos que nem sei se eram meus, tamanha a minha apatia, quando percebi a verdade ser jogada no meu rosto. Sentou-se na minha frente um homem alvo de cabelos muito pretos, corpo enxuto e uma expressão morna. O seu telefone tocou. Ele atendeu com uma voz feita para declarações de amor. Pisquei espantada como se pudesse enxergar até o invisível daquele homem. Ele deu um meio sorriso e abriu bem os olhos, olhando o céu. Da distância em que eu estava foi suficiente. Existe uma cor de olhos que é mais rara e mais bonita do que todo o esforço que um olho azul pode fazer para ser belo, essa mesma cor desbanca todas as combinações entre o verde e o amarelado. É quando a cor castanha chega a sua perfeição. Era um mel dourado derramado nos seus olhos. A cor mais bela que uma íris, essa tela viva pintada pela nossa força interior, pode um dia alcançar. Vejam bem, não era o dourado ou os amarelos que os animais podem ter, qualquer gato, onça e pinguim tem olhos amarelos... era feito de mel puro, uma cor sólida e brilhante. Essa visão abalou todo o meu castelo, as muralhas desabaram. Cheguei até a pensar que ser solitária é uma decisão. O solitário escolhe a cada minuto ser sozinho, basta uma ação para mudar essa fatalidade ilusória da vida. Um calor morno foi sentido bem dentro onde suponho deva existir o meu coração. Mas como uma taça ou um prato que se quebra com barulho e todos silenciam para prolongar o espanto, o que havia dentro de mim rachou-se novamente. Havia uma enorme aliança dourada em seus dedos e uma moça agradável beijou-lhe a testa e colocou-lhe a filhinha no colo. Olhar a vida dos outros só me faz sentir mais vazia. Olhei para os lados, porque sustentar o olhar dói muito. Levantei-me e ainda vi outros casais felizes que me insultavam. Então entendi, que o solitário, para não sofrer acaba ficando apático e escolhe sim, ser sozinho a todo instante. E quando se fica apático a mente é inundada por pensamentos que não se sabe nem de onde vieram e estes passam a ser sua companhia. Então, esqueço a profundidade da minha solidão, mas vez ou outra eu caio de novo no abismo. Andei em direção a praia, será que o mar é mais profundo que o vazio da minha vida? Andei a esmo e fui esquecendo, esquecendo a dor de momentos atrás. Mas na hora de voltar tive outro choque de pura consciência. A certeza de estar solitário é percorrer de volta o trajeto na praia e ver que só existem as suas próprias pegadas.
(Hordália das Dores Ferreira)

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